O reflexo ruim dos efeitos da pandemia do novo coronavírus na economia mundial não é nada animador para os próximos meses. Muitas empresas e indústrias estão fechadas ou funcionando parcialmente. Isso porque toda a cadeia de produção, transporte, vendas e consumo foi alterada desde o início do ano. Um verdadeiro desafio para qualquer gestão empresarial. O foco das empresas que ainda funcionam é conseguir mais capital de giro e manter suas operações na crise.
Segundo o relatório Perspectiva Econômica Global do Fundo Monetário Internacional, o FMI, divulgado em 24 de Junho, o produto interno bruto brasileiro vai sofrer uma contração de -9,1%!
É uma cifra substancialmente maior do que o relatório divulgado no mês de Abril deste mesmo ano, quando o órgão apontou retração de -5,3% já contando com as medidas de contenção contra o coronavírus. Ou seja, a política de lockdown parcial ou total e distanciamento social adotado em algumas regiões do país.
O que pode parecer exagero, deve ser encarado como um sinal de alerta pelo empreendedor que necessita de dinheiro para manter suas operações em funcionamento. Sem capital de giro na crise e com inadimplência, qualquer empresa vai à falência por falta de saúde financeira.
Primeiramente, o capital de giro está intimamente ligado à saúde financeira de qualquer empresa. Em segundo, podemos dizer que ele é a junção de todos os ativos financeiros que a empresa dispõe para arcar com todos os seus custos operacionais.
Assim, quando falamos em capital de giro não estamos falando apenas em dinheiro no fluxo de caixa, mas de todas as reservas financeiras que a empresa possui para arcar com os mais diversos custos.
Ele também diz respeito aos investimentos de alta liquidez que a empresa possa eventualmente possuir. Aqueles que podem ser resgatados com facilidade. Além disso, o dinheiro aplicado em contas também é considerado capital de giro.
Em outras palavras, é todo o dinheiro disponível para honrar seus débitos, obrigações, pagamentos e tributos:
Independentemente do seu negócio não precisar cobrir dois ou três ítens listados acima, o capital de giro é necessário para que você cubra todas as necessidades de custo, não comprometer seu orçamento e permitir a continuidade da sua empresa.
Agora que você já sabe para que ele serve, deve compreender porque ele representa uma reserva de dinheiro quando você precisa e não possui em caixa.
Por mais que não haja nada de novo entrando no fluxo de caixa, as despesas vão continuar a surgir e não é saudável deixar estas acumularem. É por isso que o capital de giro representa uma reserva de dinheiro para cobrir as necessidades que aparecem eventualmente.
As empresas podem enfrentar situações de falta de fluxo de caixa quando o negócio está começando, quando há uma sazonalidade na procura por um serviço ou produto que ela ofereça, ou como o momento em que estamos vivendo agora, uma crise econômica.
Neste último caso específico, além da baixa procura que ela representa, o empreendedor pode se ver em uma situação de inadimplência com seus clientes.
Vamos considerar aqui o caso de uma uma empresa do ramo do varejo que vende painéis solares. Ela compra 20 painéis solares de um mesmo modelo por R$ 300 cada uma pelo custo total de R$ 6.000. Para obter uma boa margem de lucro ela ela estabelece que vai vendê-los por R$ 550.
No fim do mês ela conseguiu vender:
Dessa forma, em relação aos 20 painéis solares adquiridos por R$6.000, ela teve um retorno de apenas R$ 4.583. Deixando o valor de R$1.417 em aberto, que não cobriu o montante do investimento e ainda não gerou qualquer lucro.
No mês seguinte, para repor o valor inicial investido e ainda cobrir outros custos operacionais da loja, ela terá de recorrer ao seu capital de giro.
Se algo parecido acontecer com outros produtos que a empresa comercializa, é provável que a mesma venha a ter dificuldades para honrar suas obrigações.
Sem colocar panos quentes na situação, no momento pelo qual vivemos, aumentar seu capital de giro é difícil.
Mas um bom plano estratégico de gestão de finanças da empresa pode encontrar uma solução na crise.
Pare e pense, se toda a cadeia de produção, transporte e comercialização está comprometida como escrevemos no início da matéria, é natural que haja uma dificuldade a mais de mantêr os mesmos custos de operação, uma vez que o fluxo de caixa foi comprometido pela baixa demanda de seus produtos e serviços. Seu faturamento está caindo e não é mais possível a existência do seu atual modelo de negócios.
Na crise, a revisão do quadro de funcionários e a estrutura da empresa é difícil
É por isso que medidas emergenciais são necessárias para que você não vá à falência.
Para encarar o problema de frente o empreendedor deve: revisar suas operações, as tarefas delegadas que a equipe de colaboradores executar, alinhar uma maneira de renegociar dívidas com os credores e acompanhar de perto a lista de clientes inadimplentes.
A administração de finanças visando o aumento do capital de giro nessas circunstâncias passa inevitavelmente pela revisão dos custos operacionais atuais da empresa. Este é o momento de ser rigoroso e criterioso.
Isso se traduz em rever planos secundários, programas de marketing mais complexos, cursos de aperfeiçoamento, investimentos em novas máquinas, investimentos a longo prazo (com espera de retorno maior de seis meses) divulgação da marca em canais mais caros e custos de viagens.
Eles são essenciais no curto prazo? Se a resposta for não, pare imediatamente! Mantenha apenas o que é essencial. Os outros projetos podem ser paralisados pelo tempo que for necessário.
Como muitas empresas já estão adotando o home office, os gastos com energia elétrica, água e alimentação são um alívio.
Diversas plataformas são utilizadas para melhorar a comunicação no home office
Se sua empresa tiver mais de uma filial com resultados distintos de eficiência com as mesmas horas de trabalho, é hora de manter apenas a de maior grau de eficiência.
Os projetos que são relevantes e o principal foco da empresa devem continuar. Ainda assim, repense se há alguma maneira de torná-los mais dinâmicos e menos custosos. Muita calma nessa hora! Não é porque você está revendo custos operacionais que você deve abrir mão da qualidade, pois você criaria outro problema.
Procure softwares de gestão que tenham capacidade automatizar processos e organizar a parte financeira de sua empresa. Sempre com a orientação de um contador experiente.
Por mais difícil que isso possa ser, é necessário que eventuais cortes na sua equipe ocorram. Esta estratégia está ligada diretamente com a de rever custos operacionais. Muitos funcionários estão engajados em projetos que não fazem mais sentido a curto prazo. Outros executam apenas um tipo de tarefa na empresa que pode ser assumida por outro colaborador mais versátil.
Coloque em uma balança e pese: quais dos funcionários da empresa exercem funções não essenciais? Qual colaborador é ótimo mas não possui os predicados necessários nesse momento? Qual colaborador exerce apenas uma função que pode ser assumida por outro? Qual deles possui as horas de trabalho menos eficiente que os outros?
Qual possui as habilidades imprescindíveis que a empresa necessita agora e mais para frente? Quem do quadro de funcionários é mais qualificado e capaz de levar cabo uma função multi task durante este período de crise?
Analise cada um dos seus funcionários e suas funções
Difícil, não? O empreendedor deve tomar um tempo de reflexão para meditar sobre inúmeras variáveis que essa equação exige.
Abrir mão de pessoas qualificadas mas que não se encaixam no atual momento da empresa é difícil. Mas necessário.
Para tratar de enxugar a folha de pagamento sem precisar realizar o desligamento de mais ninguém, observe a possibilidade de suspensão de contrato temporário que a nova legislação trabalhista permite.
Dê férias para alguns outros colaboradores que não têm a necessidade urgente de estar na empresa neste momento e negocie o parcelamento do pagamento da rescisão com os seus ex-funcionários que você foi obrigado a demitir.
É importante o empreendedor parar e sentar juntamente com o contador da empresa e analisar quais tributos e de quais esferas podem ser parcelados ou mesmo ter seu pagamento adiado.
Lembre-se do ditado: devo não nego, pago quando puder. Mas honre a sua palavra e realmente pague!
O mesmo deve ser feito com seus fornecedores. Não arrisque um calote com quem é seu parceiro no B2B para evitar ter a paralisação de um serviço, ou mesmo ter seu estoque zerado e sem poder vender mais nada.
O empreendedor deve estar atento para ao uso de um sistema ERP para auxiliar no controle financeiro de sua empresa
O parcelamento junto a fornecedores deve envolver a negociação de um prazo maior para a quitação de seu débito com eles. É essencial lembrar que estão todos no mesmo barco, a crise atinge a você, ele e seus clientes.
Por falar em clientes, a inadimplência infelizmente é maior durante esses períodos de crise.
A inadimplência é o descumprimento de obrigação financeira de um uma pessoa com um serviço contratado ou produto adquirido pela mesma. Quando não é realizado um pagamento previsto em contrato assinado até a data do seu vencimento, cria-se a inadimplência.
Para não ter surpresas desagradáveis, é inteligente de sua parte fazer uma lista dos clientes que costumam falhar na hora de pagar o que lhe devem. Use a ferramenta da carta de cobrança e seja criterioso nas formas de pagamento à oferecer em futuras transações.
Como fazer cobrança profissional de inadimplentes
Isso porque você precisa fazer uma projeção mensal do rombo que irá levar todos os meses pelo não pagamento dos clientes em inadimplência.
Se você trabalha com vendas a prazo, sempre estará correndo esse risco.
O quanto do seu capital de giro será utilizado para cobrir esse rombo mensal de inadimplência?
Mais importante, ao escrever uma carta cobrança, se alie o tom direto com a cordialidade. É necessário ser direto, sem parecer seco. Ser curto sem parecer frio. Ser severo sem parecer grosseiro.
A última sugestão e a menos aconselhável é tentar uma linha de crédito com o banco. Pode ser arriscado pelas taxas de juros cobradas. Além da grande exigência das instituições financeiras.
Mesmo que o governo federal tenha anunciado um pacote de ajuda no crédito bilionário tanto para as médias e grandes empresas quanto para os micro e pequenos empresários (Pronampe) há uma rejeição muito grande nos pedidos de empréstimo.
Parte é culpa dos próprios empreendedores que não conseguem obter um DRE satisfatório. A outra parte é culpa dos bancos que mantém uma linha mais conservadora ao escolher a quem dar crédito na crise.
Assim como você precisa gerenciar a inadimplência dos seus clientes, não esqueça que empresas são clientes de bancos. Logo, os bancos têm medo da sua inadimplência.
Em resumo, com todas as orientações explicitadas aqui é importante o empreendedor lembrar de não enxugar além do que é prudente na estrutura de sua empresa para aumentar seu capital de giro. O não-funcionamento da estrutura empresarial acontece por ela ser grande demais bem como por estar demasiado desidratada.
Por fim, enfrente a crise com resiliência e sabedoria pois nenhuma é eterna e o sol há de brilhar no céu mais uma vez um dia!
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