As estratégias de negociação de dívidas com os credores
As medidas tomadas para a contenção do contágio do novo coronavírus são um mal necessário. Contudo, isso causou um enorme prejuízo aos milhões de empreendedores do país. Os empresários que continuam a funcionar, ainda que parcialmente, ou após adaptar seu negócio, têm de encontrar estratégias de negociar dívidas dentro de um planejamento financeiro.
O fluxo de caixa não é o mesmo, mas as despesas operacionais continuam as de sempre.
Para piorar, a política de criação de linhas de crédito anunciadas pelo governo federal no início da crise não surtiram efeito. Mesmo com a flexibilização das exigências quanto às restrições de tomada de financiamento.
E não são apenas as micro e pequenas empresas!
Segundo pesquisa de mercado realizada pelo Sebrae, cerca de 78% das empresas nacionais não tiveram acesso a nenhum tipo de crédito desde o início da pandemia. Neste mesmo levantamento, foram ouvidas empresas com faturamento entre R$ 30 milhões e R$ 300 milhões.
Para as pequenas, o cenário é o mesmo: cerca de 80% dos pequenos negócios não obtiveram crédito junto aos os bancos.
O Blog FoxManager elencou algumas estratégias dentro de um planejamento financeiro para evitar ter seus bens bloqueados na justiça por inadimplência com seus credores.
Organizando as dívidas
Não há fórmula mágica na administração de dívidas da empresa durante um período de crise. O mais prudente e racional é adotar a austeridade para equilibrar seu fluxo de caixa atual, seu capital de giro e minimizar suas despesas.
O primeiro passo é realizar uma renegociação com todos os seus credores.
Faça uma pirâmide das maiores dívidas e as com maior urgência de serem sanadas.
Priorize aquelas que irão causar maiores danos à empresa.
É necessário organizar sua estrutura operacional e administrativa para iniciar um planejamento financeiro.
Isso traz mais confiança dos seus credores na hora da negociação.
Sua credibilidade é tudo!
Primeiramente o empresário não pode solicitar uma renegociação de dívidas se ele não demonstra a quem deve que de fato está arrumando a casa. Uma ótima maneira é fazer um DRE com projeção do seu fluxo de caixa para os próximos meses, provando o quanto você está movimentando. Em segundo, isso também vai provar o quanto você está disposto a pagar sem colocar em risco a continuidade do seu negócio.
Não pense em momento algum em alterar dados da projeção.
Além de ser anti-ético, não há maneira alguma de sustentar uma projeção com dados fantasiosos por muito tempo. Todo o sentido do planejamento financeiro é trazer informações realistas da possibilidade de pagamento das parcelas das dívidas.
Não minta sobre a saúde financeira de sua empresa aos credores
As notícias sobre calote e fraude correm rápido na praça. É o nome da sua empresa que está em jogo aqui.
Você quer ser conhecido como mentiroso ou alguém que honra o que diz?
Faça um inventário da empresa como garantia
É importante ter em mente que o patrimônio da empresa significa todos os bens tangíveis que fazem parte dela. Além disso, os bens imóveis da empresa fazem parte do seu inventário. Se você ainda não fez isso, corra! Eles são uma ótima fonte de garantia para os credores.
De fato, eles representam um compromisso seu com eles e colocá-los na negociação mostra sua determinação.
Portanto, verifique a disponibilidade dos mesmos e os coloque sob a mesa na hora de falar sobre o pagamento das dívidas. Ou ainda, se necessário se desfaça de alguns deles para conseguir mais dinheiro.
Mas muita calma na hora de vender bens da empresa. Não se desfaça de nada que seja essencial para suas operações do dia a dia.
Os bens tangíveis do inventário patrimonial da empresa, ou seu pessoal, podem ser:
- carros;
- móveis internos;
- computadores;
- impressoras;
- equipamentos eletrônicos em geral;
- maquinário de produção;
- bens de decoração;
- casas;
- prédios;
- galpões;
- terrenos.
Seja objetivo, flexível e verdadeiro na negociação
Não apenas na delicada questão de dívidas, mas em qualquer negociação ambos os lados não querem se sentir lesados. Dessa forma, é necessário que o resultado seja satisfatório para ambos. Um meio termo.
Quando o empresário pede uma renegociação ele já se coloca em uma posição de desvantagem.
Em outras palavras, você admite que não tem o dinheiro suficiente e está pedindo encarecidamente que haja um outro cálculo sobre: os valores e quantidade de parcelas, nas taxas de juros praticadas e no prazo de pagamento das mesmas.
Não é pouca coisa para se pedir sobre algo acordado em contrato anteriormente. Não concorda?
Se estivermos falando de fornecedores ou instituições de empréstimo é provável que você não tenha muitos obstáculos em conseguir o que quer em uma nova costura que atenda bem os dois lados.
No entanto, se estamos falando de bancos, há uma enorme quantidade de burocracia envolvida, e é bom ter muita paciência.
Sendo assim, sempre deixe uma boa margem de negociação e apresente termos de cumprimento que sejam factíveis. Não invente a roda.
Outra dica é nunca, NUNCA, manter uma postura beligerante ao conversar com seus credores. É menos indicado ainda trazer questões pessoais para a mesa de negociação. Isso é demonstrar desespero e instabilidade emocional. Ou seja, fraqueza.
Nunca seja agressivo ou transpareça raiva ao negociar sua dívida com credores. Isso é um sinal de fraqueza, não força
Ambas as partes estão ali para uma conversa de negócios, e nenhuma quer sentir que perdeu para o outro. Transpareça racionalidade, defina bem o que deseja e o que está disposto a ceder em troca.
Tente uma linha de crédito
Eu sei que no começo deste texto expus as enormes dificuldades que empresas de todos os portes andam tendo em conseguir linhas de crédito junto aos bancos.
Mas tenha em mente que um banco é como uma empresa qualquer. Ela precisa de garantias que muitos julgam excessivas. No entanto, os bancos querem uma certeza que não haverá calote de sua parte
Ao contrário do que muitos pensam, nem todo banco é igual
Lembra-se da projeção de fluxo do caixa? Pois é, ela dá transparência e segurança ao seu credor.
O Demonstrativo do Resultado do Exercício, famoso DRE, faz exatamente isso e é exigido por 100% das instituições bancárias quando são solicitadas à abrir linhas de crédito.
O DRE
O DRE nada mais é do que do que um relatório que auxilia na gestão financeira da empresa e apura a contabilidade da sua empresa.
Com ele é possível avaliar a capacidade do negócio de acordo com a sua situação atual e real.
Esse DRE é elaborado de acordo com o balanço patrimonial da empresa. Resumidamente, ele descreve as operações financeiras que foram realizadas em um período utilizado como base de avaliação da própria empresa.
Dessa forma, o DRE tem como resultado um demonstrativo líquido informando prejuízos ou lucros da empresa de acordo com as operações que foram realizadas.
É com o DRE que o banco irá julgar se sua empresa tem saúde financeira para pagar o financiamento com o ele.
Monte o seu DRE
Um sistema de gestão não é apenas para grandes empresas. Você pode buscar um software de ERP que faça gestão empresarial, como o FoxManager por exemplo, e com o auxílio imprescindível do seu contador montar um DRE da sua empresa dentro da plataforma.
Estipule o valor do crédito
Pronto, agora é hora de estipular o quanto você realmente precisa.
Se lembra da pirâmide das dívidas? Some o valor do que você julga ser mais urgente e peça uma quantia adequada para as contas a pagar.
O que você pretende pagar: seus fornecedores, sua folha de pagamento de funcionários e seu aluguel, por exemplo. Não é prudente pedir dinheiro para pagar a fatura do cartão de crédito.
Chegue ao banco preparado com as devidas informações a respeito de sua empresa preparadas
O banco não vai simplesmente pôr dinheiro na sua mão sem saber exatamente o que você pretende fazer com ele!
É dever seu demonstrar ao banco que o seu objetivo é viável financeiramente dentro do planejamento financeiro.
Sendo assim, além do DRE é provável que alguns bancos solicitem também um estudo da viabilidade feito pela própria instituição.
Pesquise bem sobre o banco
Apesar da crendice popular, os bancos não são todos iguais. É necessário se informar sobre as linhas de crédito praticada por cada um e se o seu negócio se encaixa naquilo que eles oferecem. Não perca seu tempo, bem como o deles, tentando conseguir condições que não são feitas para o perfil de sua empresa.
Muita coisa pode mudar de instituição para instituição. Tais como: custos envolvidos, prazos, limites, juros, multas e taxas diferenciadas.
Parte das dívidas é de empréstimo, posso não pagar?
Nunca apele para o calote como sua primeira opção. Considere essa alternativa apenas depois de esgotar completamente todos os instrumentos de negociação junto ao credor do empréstimo.
Se você chegou ao ponto de considerar essa saída é importante ter em mente três coisas:
- O valor da minha dívida atual é maior que o valor final da nova dívida que irei gerar?
- Vou ter tempo suficiente de fazer caixa ao não pagar no prazo estipulado a parcela do meu empréstimo?
- Qual o prazo de pagamento da nova dívida sobre o empréstimo não pago?
A ideia inicial da negociação é não tornar esse problema uma bola de neve. Sim, você deve. Mas precisa encontrar meios dentro do planejamento financeiro que lhe permita saldar tudo, não transformar a situação em um beco sem saída.
Ao analisar os valores da multa, vale a pena não pagar seu empréstimo?
Lembre-se que o objetivo principal é garantir o funcionamento do seu negócio durante a crise. Se não existir um gerenciamento financeiro adequado da empresa, com certeza irá fechar as portas.
Parte das dívidas é com fornecedores, posso não pagar?
Definitivamente não. O ramo B2B é essencial para o funcionamento do B2C. Se seu negócio depende de novos produtos, licença de software, matérias primas ou insumos, dar calote no seu parceiro não é uma opção.
Mas há margem de negociação. Como se trata de uma parceria entre duas empresas, é natural que ambos os lados queiram que ela continue e seja duradoura. Ainda mais em tempos incertos.
Empresas B2B são essenciais para as empresas B2C
É importante ser franco com seu fornecedor. Sempre pode haver renegociação, contudo, não deixe a dívida sair do seu controle.
Imagine criar uma nova dificuldade por ter seu estoque zerado, ou um cancelamento de serviço pelo não pagamento do fornecedor?
Se você por um empresário responsável isso é impensável em qualquer situação, seja de crise ou não.
Assim, revise os contratos com seus fornecedores. Dê prioridade para os prazos de pagamento e preste atenção na incidência de juros ou multas.
Conclusões sobre dívidas
O mundo vive uma situação atípica e é natural que todos queiram correr o mínimo de riscos possíveis. Na sua renegociação de dívidas seu histórico de relacionamento com seus credores vai pesar muito em um fim positivo para você.
Em resumo, não deixe de buscar sempre alternativas. É importante você reduzir todos os custos operacionais para aumentar seu capital de giro. Isso permite sua gestão empresarial mais saudável e impede que você acumule dívidas ao ponto destas se tornarem impagáveis.
Por fim, busque sempre o auxílio que a tecnologia pode lhe oferecer ao fazer um planejamento financeiro, assim como o trabalho de bons profissionais da contabilidade para alcançar seus objetivos.